29 de novembro de 2010

O AMOR


Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:

Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.

Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.

Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.

Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vós estar sozinho.

Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.

E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia.

Pois as colunas do templo erguem-se separadamente.

E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro.

Quando o amor acenar, siga-o ainda que por caminhos ásperos e íngremes.

Debulha-o até deixá-lo nu.

Transforma-o, livrando-o de sua palha.

Tritura-o, até torná-lo branco.

Amassa-o, até deixá-lo macio.

E então,submete ao fogo para que se transforma em pão para alimentar o corpo e o coração!

Quando o amor vos fizer sinal, segui-o; ainda que os seus caminhos sejam duros e escarpados.

E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos.

Ainda que a espada escondida na sua plumagem vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz poder quebrar os vossos sonhos.

Como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor vos coroa, também deve crucificar-vos.

E sendo causa do crescimento,
deve cuidar também da poda.

E assim como se eleva à vossa altura e acaricia os ramos mais tenros que tremem ao sol,
também penetrará ate às raízes
sacudindo o seu apego a terra.

Como braçadas de trigo vos leva,
malha-vos até ficardes nus.

Passa-vos pelo crivo para vos livrar do palhiço.

Mói-vos até à brancura.

Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor, para poderdes conhecer os segredos do vosso coração.

E por este conhecimento vos tornardes um bocado do coração da Vida.

Mas, se no vosso medo, buscais apenas a paz do amor, o prazer do amor, então mais vale cobrir a nudez e sair da eira do amor, a caminho do mundo sem estações, onde podereis rir, mas nunca todos os vossos risos, e chorar, mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

Quando amardes, não digais:
-Deus está no meu coração,
mas antes: - Eu estou no coração de Deus.

E não penseis que podeis guiar o curso do amor; porque o amor, se vos julgar dignos, marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amardes, e tiverdes desejos, deverão ser estes:

Fundir-se e ser um regato corrente a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.

Ser ferido pela própria inteligência
do amor, e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com um coração alado e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
com gratidão; e adormecer tendo no coração uma prece pelo bem amado e um canto de louvor na boca.



.

Nenhum comentário:

Postar um comentário